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O ovo no cu do coelho.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 27.03.16

Julgo já me ter debruçado sobre várias alturas importantes do ano, mas não sobre todas. Por isso, minhas cenas e meus coisos, vamos, desta vez, falar da Páscoa!

Sim, eu sei que já todos nós questionamos pelo menos algumas das inúmeras tradições da Páscoa, sejam elas religiosas (como o não comer carne em dias específicos) ou não. E do que vos quero falar, tentando manter-me o mais longe possível da religião, como é meu apanágio, é da treta dos ovos de chocolate que são trazidos por um coelho.

Passemos logo para as questões mais importantes, e que muitos de vós já devem ter colocado: porquê – ou como – ovos de chocolate, numa celebração que tem como símbolo mítico um coelho? Onde é que se inserem, nesta história, o coelho, a galinha (ou outra ave qualquer, dependendo do tamanho do objecto) e o chocolate? Como é que ligamos isto tudo?

A minha primeira (e única) teoria seria a seguinte:

 

Um dia, estava a galinha Josefina a bicar restos de milho pela terra do quintal do seu dono quando apareceu Manolo. Manolo era um coelho colombiano, grande macho latino, só que tinha também as particularidades de ser tanto um violador como dono de um cartel de cacau.

Manolo começou a investir sobre a Josefina, que era uma rapariga da terra e, por isso, pouco dada a aventuras. Só que, eventualmente, lá o coelho a conseguiu vencer por exaustão e levou-a para a sua opulenta toca de animal quadrúpede traficante de cacau. Fizeram amor em cima de um montinho de chocolate em pó e, a partir daí, a galinha começou a parir só ovos de chocolate.

Por isso é que, na Páscoa, escondemos os ovos para as crianças procurarem e dizemos que foi o coelhinho da Páscoa que os escondeu.

Porque o Manolo, além de violador, era também pedófilo.

Fim.

 

Ora, terá esta história sido demasiado rude? Talvez.

Mas se têm uma explicação melhor, então liguem-me a avisar. Podem encontrar o meu número de telemóvel nas casas-de-banho de várias estações de serviço por este país fora.

Obrigado.

 

Abreijo.

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Velhas antigas ultrapassadas relíquias.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 04.03.16

No outro dia estava eu em casa, só de t-shirt e de meia branca, como de costume, quando me levantei de repente do sofá e fui dar uma espécie de pontapé involuntário com os dois dedos mais pequenos contra o móvel. Como acontece com toda a gente, o meu primeiro instinto foi gritar e insultar tudo aquilo de que me lembrava, mas consegui conter-me. Afinal, seria mau estar a gritar contra uma futura relíquia. Ainda podia desvalorizá-la.

Porque, é o seguinte: a partir de que momento é que um móvel deixa de ser só velho e barato e passa a ser uma relíquia que custa balúrdios? E quem diz móvel, diz também candeeiros, quadros, televisões, carros, porcelanas… Enfim, tudo o que não se desintegre assim tão facilmente, com o passar dos anos.

Há uma altura mais ou menos definida em que o lugar de um objecto antigo deixe de ser o fundo da sala, a apanhar pó, para ser um museu, continuando a apanhar pó? Mas um pó mais requintado, diga-se…

Uma cadeira com 20 anos, pode ser usada e abusada. Uma com 200, já ninguém pode colocar lá o rabo. Porquê? O que é que aconteceu entre esses 180 anos que valorizou a cadeira? Ganhou mais traças? Estamos a pagar um imposto extra pelas traças? Isso agora existe?

É o mesmo com os queijos. Porque é que os queijos mais velhos, logo, com mais bolor e outras coisas que tais lá dentro, são os mais caros? E, pelo que dizem mais saborosos (embora eu discorde)? É mesmo só para teimar?

No outro dia tentei vender o meu avô. Não aceitaram, lá no leiloeiro, disseram que até podia ir preso, e mais não sei quê… Mas se lá fosse vender uma múmia, que tem mais ou menos a mesma idade do que meu avô, já me sujeitava a levar para casa uma pipa de massa!

Enfim, critérios que, no fundo, já são, também eles, relíquias.

 

Abreijo.

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Lava-preconceitos.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 12.02.16

Um toque. É tudo o que basta para que uma peça de loiça passe a ser considerada imunda e nojenta, independentemente de onde tenha estado e do que tenha contido antes. Com um simples toque, a loiça passa de bestial a besta, de 80 para 8, de dama para vagabundo. Ficamos com pudor e com complexos de lhe tocar. Basta que toque no lavatório.

 

Porque é que, a partir do momento em que um prato sujo toca no lavatório, passamos a considerá-lo nojento, quando ainda há poucos minutos tínhamos estado a enfardar, com tudo aquilo a meros centímetros da cara? Agora, só porque tocou no lavatório, já é nojento? Nem lhe conseguimos tocar com as mãos, temos logo de ir buscar umas luvas para não tocar naquela matéria estranha e pastosa?

 

Dou carta-branca a quem tem Alzheimer. Essas pessoas nem se lembram se já comeram ou não, por isso faz sentido que não queiram andar a mexer num prato sujo que não sabem se é o seu. Agora, todos os outros talvez estejam a exagerar um bocadinho, visto que aquilo que estão agora a lavar do prato são apenas restos do que andaram a enfardar pela goela abaixo durante uma boa meia-hora. Se têm nojo do prato, porque não têm nojo da vossa própria goela?

 

Contra mim falo, porque no outro dia não me deram colher de sobremesa e achei nojento ter de estar a limpar com um guardanapo a colher com que comi a sopa para poder comer também a gelatina. Eu tinha acabado de levar aquela mesma colher à boca, contendo as últimas gotas de uma sopa que, por acaso, até estava bem boa. Porque é que, de um momento para o outro, aquele objecto se havia tornado tão nojento? Tenho nojo de mim próprio? Será que tenho problemas de auto-estima e não o sabia?

 

Sim, porque é normal termos nojo dos utensílios das outras pessoas – afinal, não sabemos onde elas andaram –, mas ter nojo dos nossos próprios utensílios? Andamos todos a arrastar a boca em sítios assim tão dúbios para desconfiarmos de nós mesmos?

 

 

Abreijo.

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Saltos e saltinhos.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 02.02.16

Tenho orgulho nos meus antepassados. Acho, até, que todos devíamos ter. Não falo daqueles antepassados que se calhar até foram fidalgos e compraram escravos como se fossem pãezinhos quentes, ou que andavam de cartola só para engatar mais miúdas vestidas de corpete e prestes a desmaiar; falo nos antepassados a sério, aqueles que estavam um grau acima de macacos!

 

Porque os nossos antepassados trabalharam e esforçaram-se bastante para se tornar rápidos, ágeis e silenciosos, umas verdadeiras máquinas de não dar muito nas vistas. E porquê? Porque tinham medo de ser comidos por um tigre, ou assim, e por isso tentavam passar despercebidos.

 

Já não tenho muito respeito, por outro lado, por nós. Pelos macacos de hoje em dia (sem desprimor pelo símio propriamente dito). Hoje, os saltos dos nossos sapatos parecem uma chamada de acasalamento! Perdeu-se completamente a vontade de não dar nas vistas, principalmente porque conseguimos meter os tigres mais próximos dentro de jaulas e agora já não corremos o perigo de eles nos levarem uma perna por dá cá aquela palha.

 

Os nossos pés fazem, hoje, tanto barulho como faziam os “pés” de um cavalo no século XVII. Aliás, quando os meus vizinhos de cima chegam a casa ao fim do dia, é como se eu vivesse por baixo de um picadeiro que oferece descontos em aulas de equitação nocturnas. Às vezes deixo cubos de açúcar à porta, a ver se ouço alguém a relinchar.

 

O medo que antes consistia em não sermos deglutidos por um animal selvagem, transformou-se agora no medo de sermos ostracizados pelo monstro do “estar fora de moda”. O fashion designer passou a ser o nosso novo tigre, e coincidentemente até tem o mesmo padrão riscado do animal no seu casaco de peles.

 

Mas desengane-se qualquer homem que pense que este tema não lhe diz respeito, até porque já tenho visto muitos que estão a poucos centímetros de calçar dois desfiladeiros especialmente tempestuosos nos pés! Também nós, machos teimosos, aderimos à ideia de que até é giro ter sapatos que fazem defeito no chão quando estamos com mais pressa e alargamos o passo.

 

Pronto, no fundo, é isso. Usem pantufas, e coiso…

 

 

Abreijo.

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A pré-Inquisição.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 26.01.16

Às vezes acordo, arrasto-me lentamente para fora da cama, bebo o meu café matinal, olho pela janela, e pergunto-me: será que as pessoas que dizem que gostam de ler um livro à luz da lareira sabem que se estão a auto boicotar?

 

Eu sei, eu percebo-vos… Também acho extremamente apelativo devorar uma qualquer obra literária num sítio quentinho, aconchegante, com luz ambiente intermitente e um whisky bem servido… Mas, quando me dá essa vontade, prefiro ir ler para um clube de striptease!

 

Porque queimar madeira significa, no fundo, eliminar as hipóteses de existirem vários potenciais livros, ou livrinhos. O mesmo material que estão a queimar para se manterem quentinhos é mais ou menos o mesmo material de que é feito o objecto que têm na vossa mão, e que vos está a contar todas essas histórias maravilhosas.

 

Se gostam tanto de ler livros, então porque é que os destroem ainda antes sequer de eles serem feitos? Sabem que, assim, estão a tornar-se numa espécie de pré-Inquisição? Era o mesmo que eu gostar de cerveja, mas só conseguir realmente apreciá-la se, ao mesmo tempo, estivesse a deitar químicos por cima dos campos de cevada. Acabava por ser só contraproducente…

 

E dizem vocês: “Oh coisinho, já falaste em dois tipos de bebidas alcoólicas num único texto… Há algo que nos queiras dizer?” Ao que eu respondo: sim, parem de maltratar os vossos passatempos favoritos e eu prometo que tento ir mais vezes ao centro de reabilitação!

 

Portanto, vamos lá terminar com isto: se querem ler um livro quentinhos, então cubram-se com um cobertor; ou liguem o aquecedor eléctrico; ou cortem o estômago de um animal de grande porte e metam-se lá dentro.

 

Agora, não me queimem o raio das árvores, porque quero fazer um churrasco para a semana e não quero ter de queimar o meu único exemplar d’Os Lusíadas por falta de madeira!

 

 

Abreijo.

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"Cuidado com a placa."

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 02.01.16

A nossa casa é, normalmente, uma daquelas coisas que nós queremos que dure o máximo de tempo possível. Por isso é que estamos constantemente a assentar uma nova tijoleira, a substituir as janelas e a tapar buracos na canalização. Mas às vezes fazemos coisas estúpidas e que sabemos que não vão durar para sempre - ou, pelo menos, não muito tempo -, como colar uma placa de azulejo na parede a avisar outras pessoas para terem cuidado com o cão.

 

Pronto, eu percebo... Têm um cão que é especialmente mau, ou um pouco imprevisível, e querem alertar outras pessoas para esse facto. Acho muito bem, até acho nobre! Mas a questão é que o cão, mais cedo ou mais tarde, e por muito que custe ao seu dono, vai morrer. Quinar. Correr nas nuvens. E a placa, essa, vai continuar colada na parede, porque se a tirássemos ia fazer um defeito muito feio e a única outra solução seria mandar a parede abaixo. O que, do ponto de vista de uma casa, tirar-lhe-ia um pouco da utilidade.

 

Portanto, acabamos por ficar com uma quase eterna recordação de que o nosso cão morreu. O que é um bocado sádico. E mórbido. E, vá, estúpido!

 

O meu conselho para as pessoas que queiram arranjar uma placa desse género, é: arranjem uma que só tenha texto, porque assim podem sempre adoptar outro cão e fazer de contas que a placa foi comprada de propósito para ele. Se puserem uma foto ou um desenho do vosso cão actual no azulejo, já não vão poder continuar a dar-lhe uso caso venham a ter outro animal.

 

É o mesmo que aqueles casais que fazem uma tatuagem com o nome do seu parceiro no braço, e depois chateiam-se e acabam tudo com ele... E agora, o que fazem? Arranjam outro parceiro com o mesmo nome? Riscam o nome antigo e escrevem o novo nome abaixo, em itálico que é para ser diferente desta vez?

 

Para uma coisa servem, e hão-de servir durante muitos mais anos, as placas de azulejo que dizem "cuidado com o cão": para afugentar ladrões, vendedores porta-a-porta (que também são, basicamente, ladrões), representantes de ordens religiosas e outras espécies indesejadas.

 

Só por isso, já valia a pena o investimento, mesmo que nunca tivessem tido um cão na vida.

 

 

Abreijo.

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Obsessão pela ferramenta.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 21.12.15

Os homens são um bicho esquisito. Eu bem sei, porque sou um; e já me tenho apercebido de que sou um bicho esquisito. Porque os homens, armados em campeões, têm a mania de criticar as mulheres em muitas coisas (nalgumas delas bem, vá), mas ignoram o facto de fazerem exactamente o mesmo, apenas com uma ligeira mudança de cenário.

 

Passo a explicar: uma crítica recorrente dos homens àquela criatura bela e doce que é a mulher – quando está bem-disposta – é o facto de ela passar horas nas lojas a fazer compras e a analisar detalhadamente uma vasta gama de produtos. Do que o homem se esquece, quando critica esta particularidade que julga ser apenas característica da mulher, é do papel igualmente ridículo que faz quando entra numa loja de bricolage!

 

Só há dois tipos de clientes de lojas de bricolage: homens, daqueles com barriga de churrasco e bigode de vassoura de palha; e mulheres confusas, porque acharam que aquele nome sueco era o de uma nova loja de bijuteria. E são esses mesmos homens barrigudos que, quando entram numa loja dessas, se transformam numa verdadeira diva do shopping, querendo ver e experimentar tudo! Não interessa se precisam ou não de um determinado objecto, até porque, mais tarde, ele ainda pode vir a servir, tal como a roupa das senhoras.

 

Com o mesmo entusiasmo contido com que as senhoras entram numa loja de roupa e dirigem-se logo para a área dos sapatos, também os cavalheiros entram numa loja de bricolage e dirigem-se logo para a área das ferramentas. Das tintas e dos pincéis. Dos candeeiros e das lâmpadas. Dos tampos de sanita e dos armários de casa de banho. Enfim, de qualquer coisa que lhes dê um novo ar à casa e ao ego.

 

Da mesma forma que uma mulher experimenta um cinto mil e uma vezes em frente ao espelho, para ver se ele lhe assenta bem, um homem também passa horas em frente ao espelho a contemplar o cinto de ferramentas mais versátil lá da loja, e que lhe faça parecer mais macho no caso de passar algum vizinho – ou vizinha – pela obra.

 

Até o argumento da distinção de cores entre os dois sexos cai por terra quando um homem entra numa loja de bricolage: aquilo que, para o homem, antes era só castanho, verde ou azul, agora pode ser marron, verde azulado ou azul esverdeado, quase azul-marinho. É mesmo preciso tanta pesquisa para descobrir de que forma é que eu vou pintar a parede do meu quarto? Há assim tanta gente que o vá ver para além de mim e, vá, do meu cônjuge?

 

Só se for a vossa mãe.

 

E pronto. Com um insulto, me despeço.

 

 

Abreijo.

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Sabão à lagareiro.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 10.12.15

No outro dia estava eu a acabar de jantar e, após ter comido uma laranja para sobremesa, como pessoa saudável que sou, decidi ir lavar as mãos; como pessoa asseada que também sou. Até aqui tudo certo, não é? E se eu vos disser que o raio do sabão com que ia lavar as mãos também era de laranja?

 

A sério, quem é que se lembrou de criar sabões e sabonetes com aromas a produtos alimentares? Quem é que estava assim tão aborrecido a esse ponto?! De que é que me serve um raio de um sabão de laranja quando o que eu quero mesmo é remover o cheiro de laranja que me ficou entranhado nos dedos e nos entrefolhos das unhas? Será pedir muito um sabão que cheire a, portanto, vá, sabão?

 

Antigamente não havia nada dessas tontices, bem sabemos… O sabão cheirava a lavanda, a novo, a fresco! Era o chamado sabão-macaco, que fazia de nós homens, independentemente do sexo, e arrancava-nos pedaços de pele, principalmente se nos caía em cima do pé. Hoje, o sabão cheira a laranja, melancia, coco e frutos vermelhos. Em alguns casos até é capaz de cheirar a tutti-frutti, ou a “salganhada de frutas”, como eu gosto de lhe chamar.

 

O pior é que eu, mesmo sem ter pesquisado, aposto que já existem também sabões com cheiro a couve, a batata ao murro e a tofu. Alguns existirão ainda com aroma a café e textura de chocolate quente, acompanhados por marshmallows. De que serve, então, lavar as mãos, se vamos continuar com as mesmas a cheirar àquilo que acabamos de ingerir? É mesmo isso que queremos, incentivar a badalhoquice ao nível da lavagem de mãos? Com tantas gripes aviárias, suínas, crustáceas, e mais não sei quê, por aí?

 

Imaginem que era eu a criar um desodorizante com cheiro a suor, ou um amaciador da roupa com um ligeiro travo a chulé… Imaginem ainda que também inventava uma pasta de dentes com sabor a aros de cebola, e que vos oferecia tudo isto num lindo cabaz pelo Natal. Vocês chamavam-me inovador, ou, apenas, estúpido?

 

E podem vocês argumentar, no vosso jeito um bocadinho parvo: “Ah, oh Diogo, mas se estás assim tão indignado, porque é que não compraste sabão com outro aroma?” E eu respondo: porque não havia lá sabão com aroma de limão! Citrino por citrino, ao menos comprava daquele que costumo comer menos vezes…

 

 

Abreijo.

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Vou-vos contar.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 08.12.15

Como sociedade – e, até, como espécie –, temos finalmente de tomar uma decisão. Afinal, devemos começar a contar pelos dedos primeiro com o indicador ou com o polegar?

 

Actualmente, existem ambas essas facções; deixamos a escolha nas mãos do livre-arbítrio de cada um. Mas isso irrita-me, e por isso acho que devem ser impostas algumas regras. No fundo, sou uma espécie de ditador das falanges...

 

Antes de mais, explico: começar a contar com o polegar significa fazer uma espécie de sinal de ‘fixe’ e depois começa a estender os dedos um a um a partir daí; começar a contar com o indicador significa esticar primeiro o dedo que aponta, ir até ao mindinho e só depois levantar o polegar.

 

O meu problema não é eu ser fã de qualquer um dos métodos, apesar de haver um que também eu uso mais do que o outro… O problema é que não há uma uniformidade de ações, e isso chateia-me! Ter cada um a fazer aquilo que lhe apetece, mas estamos numa democracia ou quê?!

 

É que, uma coisa é os ocidentais comerem com talheres e os orientais comerem com pauzinhos; ou os EUA, o Myanmar e a Libéria ainda usarem o sistema imperial quando o resto do Mundo já adoptou o sistema métrico… Mas esta distinção na forma como contamos com os dedos não tem nada a ver com a situação geográfica, nem com o património cultural de cada um! Apenas temos maneiras diferentes de o fazer porque nos apetece!

 

Depois, há ainda aqueles que começam a contar com o mindinho e acabam no polegar, mas dessa gente nem vou falar porque isso aí já é só querer dar nas vistas… E eu, para dar nas vistas, só ao soco.

 

O que é importante saber é que, por todo o Mundo, de cá para lá e de lá para cá, as pessoas contam com os dedos de maneira diferente. E isso irrita-me, pronto! Talvez mais do que devia, mas é assim a vida e o ser humano é feito de idiossincrasias.

 

Adeus e bom dia.

 

 

Abreijo.

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(Des)Pintar o futuro.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 07.12.15

Não é segredo para ninguém – excepto para algumas pessoas para as quais uma enciclopédia é, no fundo, um calço para portas – que o ser humano tem uma vasta história de existência. Desde que tínhamos barbatanas no lugar das orelhas até aos dias de hoje, em que temos telemóveis no lugar das orelhas, aconteceram muitas coisas entretanto, e é óbvio que grande parte delas não pôde ser documentada por falta de, vá, papel.

 

Mas, se há uma coisa que acompanhou o ser humano ao longo da história, é a incompetência. E é aí que começam as confusões. Senhores historiadores, arqueólogos, teóricos da conspiração e outras pessoas que tais: já pensaram na hipótese daquele hieróglifo muito estranho que encontraram numa caverna nas Caraíbas não ser sinal de presença extraterrestre nem de uma civilização mais avançada coisa nenhuma, mas de ser apenas a falta de talento que aquele homem das cavernas em particular tinha para a pintura?

 

Porque, vamos ser sinceros, hoje em dia, qualquer rabisco é considerado arte. O que é que me garante que naquela altura também não era assim? Um homem das cavernas desenhava um mamute com aspecto de asteróide e era considerado um génio, um suprassumo da pintura ‘rupestro-contemporânea’! E depois são os arqueólogos que se lixam, porque têm de explicar às pessoas porque é que os seus antepassados pintavam pilas nas paredes das cavernas quando o que era suposto era ter-se pintado os primeiros protótipos do que viria a ser uma carroça.

 

Quer isto dizer que os nossos sucessores vão pensar que todas as mulheres contemporâneas tinham os mesmos níveis de alegria da Mona Lisa, ou que éramos todos feitos aos cubos como nos quadros do Picasso?

 

Eu, por exemplo, sofro desse mesmo mal de não saber desenhar. Sou perito em fazer casas quadradas com telhados triangulares, mas mais do que isso já não é para mim. E foi por isso que não me dediquei à pintura! Porque se andasse a grafitar nas paredes o pouco que eu sei desenhar, os nossos antepassados, baseados na minha arte, lamentariam a nossa falta de conhecimentos e de variedade em termos de arquitectura!

 

Enfim, sinto que já me estendi em demasia… Só queria que esta mensagem ficasse bem presente na mente de quem ler isto: se não sabem pintar, PAREM DE PINTAR! Se não sabem esculpir, PAREM DE ESCULPIR! Senão, os vossos descendentes vão pensar coisas muito estranhas sobre vocês, mais estranhas do que o facto de terem casado com uma miúda 30 anos mais nova “por amor”.

 

 

Abreijo.

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Dilúvios indesejados.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 02.12.15

Porque é que qualquer ser humano torna-se num mariquinhas quando começa a chover? A sério, pensem lá comigo… Até o mais inchado dos culturistas, carregadinho de testosterona, abandona tudo o que está a fazer e começa a dar passinhos curtos na direção de um abrigo quando começam a cair os primeiros pingos de chuva.

 

Mas o que é que há de assim tão mau na chuva?! Deixa-nos desconfortáveis, coitadinhos dos meninos? O problema é nosso, começamos com esta brincadeira do vestuário há milhares de anos e agora sentimo-nos incomodados quando temos a roupa colada ao corpo! Já viram um leão a fugir da chuva, ou um elefante a abrigar-se num palheiro por causa da água que cai do céu? Claro que não, porque esses são bichos rijos e que não se intimidam com tão pouco!

 

A chuva consiste, no fundo, no líquido mais importante para o ser humano. É só parvo estarmos a fugir dela, devíamos era olhar para cima e abrir a boca! Mas não…

 

Na banheira, por exemplo, tudo bem. Parece que até faz sentido estarmos imersos em água e gargarejarmos com restos de líquido já acastanhado do esterco. Tal como na praia, faz imenso sentido para algumas pessoas percorrerem quilómetros e quilómetros à procura de uns litrinhos de água para dar uns mergulhos. Agora, quando é a própria água a ir ter com eles na rua: “Ai, ai, que vou molhar o saco dos rabanetes!”

 

Imaginem que, em vez de água, chovia ácido sulfúrico. Aí sim, fazia sentido fugirmos! Parece que aquilo ainda arde, e não sei quê…

 

Mais, imaginem que chovia vinho tinto em vez de água, manchando todas as nossas roupas e deixando-nos com aspecto de vindima. Aí sim, também fazia sent… Quer dizer, não para o meu tio Fernando, que é bêbado; mas, para todas as outras pessoas, aí sim, também fazia sentido fugir!

 

Agora, fugir da água? Então anda gente em certas partes do Mundo a rezar e a fazer danças ridículas para que chova e nós andamos aqui a fazer queixinhas uns aos outros porque nos caiu um pingo no nariz? Mas isto está tudo doido?!

 

Façam o seguinte: da próxima vez que chover, saiam à rua e aproveitem a sensação… Vivam um bocadinho! E depois vão ali à farmácia da esquina comprar medicamentos para a constipação, porque é o meu pai que gere aquilo e dava-nos jeito o negócio.

 

 

Abreijo.

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Bairros relativamente sociais.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 01.12.15

Um dia, um amigo meu da escola disse que morava num bairro social, e a minha percepção da realidade levou um golpe tremendo. É que sempre pensei que também o meu bairro era social, que eu vivia em conjunto com outras pessoas e que, vá lá, socializávamos. Mas, ao que parece, o meu bairro é, na verdade, anti-social, um menino verdadeiramente mimado e de nariz empinado!

 

Gostaria de encontrar na rua a pessoa que inventou o termo “bairros sociais”. Dar-lhe um grande aperto de mão e perguntar-lhe o que correu mal na sua vida, ou no seu bairro, para ter tantos traumas relativamente à sociabilidade de certos conjuntos de edifícios de habitação. Será que nenhum dos seus vizinhos falava com ele, no seu próprio bairro? Será que se fechavam todos em copas, nos respectivos lares?

 

É verdade que existem alguns bairros mais sociais do que outros, sim, nomeadamente aqueles que envolvem atritos e balázios, que devem ser um fartote… E existirão outros onde é raro ver alguém sair à rua, porque têm piscina em casa e, a partir daí, torna-se desnecessário sequer conviver com outras pessoas. Mas sociais, sociais, parece-me que todos são.

 

Se vamos começar assim a pôr rótulos em tudo o que é conjunto de infraestruturas de albergue, não podemos cingir-nos à classificação de bairros sociais. Além do já falado “bairro anti-social”, porque não designar alguns também por “bairros com défice de atenção”, ou até mesmo “bairros autistas”?

 

Mais, porque não chamar “bairros malcriados” aos mais desordeiros e “bairros bem-comportados” àqueles onde as pessoas são sempre simpáticas umas com as outras? No limite, pode-se chamar “bairros trafulhas” àqueles onde predominam pessoas com cadastro – ou, pelo menos, com pendor para as trafulhices – e “bairros isentos de impostos” àqueles com muitas prostitutas!

 

Quem sabe… A partir do momento em que começamos a designar certos bairros por “bairros sociais”, o céu é o limite!

 

 

Abreijo.

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Fidelização pouco viável.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 30.11.15

Tenho andado a conversar muito, ultimamente, com a minha carteira, e tem vindo sempre à baila um assunto que nos aflige a ambos. É que ela, no fundo, está vazia, e ambos sabemos disso, mas tem sempre um volume tal que parece estar cheia! Isto deve-se, como é bom de ver, à atual proliferação de cartões de fidelização.

 

Em termos de valor real, a minha carteira – que, ela própria, foi barata – tem muito pouco disso. Chego a ter, num dia bom, uns bombásticos 20€ na carteira, que lá não permanecem mais do que o tempo de uma tarde de copos. Mas cartões, esses, tenho às dezenas, embora já nem sequer me recorde de para que me servem.

 

E a minha tão costumeira pergunta é, desta vez, a seguinte: para quê tantos cartões, senhores diretores de estabelecimentos e tralhas do género? Se vou ao supermercado, perguntam-me se quero fazer um cartão; se vou a uma loja de roupa, perguntam-me se quero fazer um cartão e levar um par de cuecas de oferta; se vou a um café, perguntam-me se quero um cartão para acompanhar o bagaço; e se vou ao canil, perguntam-me se quero fazer um cartão que me dá desconto num cachorro, pelo que tenho sempre de dizer que cachorro, para mim, só no pão.

 

Há mais plástico dentro da minha carteira do que no fundo do oceano! Qualquer um deles, não interessa… Se todos os meus cartões fossem reciclados, dava para fazer um parque aquático; mas sem água, só com escorregas de plástico onde os putos batessem com a cabeça em mais plástico quando chegassem lá abaixo.

 

O problema é que as pessoas do lado de lá do balcão ficam genuinamente chateadas se não aderimos ao cartão da loja, ou então tentam à força toda encontrar razões para que o façamos. E digo eu: “Oh minha senhora, acredite quando lhe digo que não costumo vir comprar assim tantas lingeries como você julga… Isto é só uma prenda para a minha mulher!” Ao que ela responde: “Então, mas se compra para a sua mulher, porque não compra também para a sua sogra?”

 

E aí eu saio da loja, vomito num canto, volto a entrar e limpo a boca à lingerie, antes de responder: “Obrigado, mas afinal já não vou levar isto. Mudei de ideias, lembrei-me de que tinha o cartão de uma loja da concorrência que me dá uns descontos porreiros.”

 

 

Abreijo.

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Enrolanços pouco higiénicos.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 26.11.15

Vai ter de ser. Epá, desculpem, mas vou mesmo ter de falar sobre este assunto. É que uma pessoa depara-se com esta situação todos os dias, e não a pode ignorar para sempre.

 

Rolos de papel higiénico. Calma, não se preocupem… Prometo não ser demasiado escatológico, até porque não tenho nada contra o papel higiénico em si. Tenho, isso sim, contra o rolo!

 

No geral, concordo com o conceito: enrolar o papel higiénico dá muito jeito de um ponto de vista prático e, até, de um ponto de vista lúdico. Que o diga o meu cão, que se diverte à brava a desenrolá-lo. Mas, de um ponto de vista do aproveitamento, o rolo de papel higiénico é só uma ideia estúpida. Pelo menos, da forma como é feito atualmente...

 

Ter um buraco no meio do rolo dá jeito, sim senhor. Não digo que não. Mas era preciso fazer um buraco tão grande? Onde é que vão enfiar o rolo, num pinheiro? São campistas com problemas intestinais, vocês? É que, quanto maior o buraco, menos papel higiénico terá o rolo. E eu, quando compro uma coisa, gosto de comprar o máximo possível dessa coisa, com o mínimo possível de espaço vazio. No fundo, gosto do meu rolo de papel higiénico como gosto dos meus sacos de batatas fritas: quanto menos ar, melhor.

 

A maior parte dos suportes de rolo de papel higiénico são da largura de uma simples caneta. Qualquer buraco no rolo maior do que isso, é só desnecessário. E quem diz rolo de papel higiénico, diz rolo de cozinha, que isso é tudo farinha do mesmo saco!

 

Depois, há ainda outro dilema: o que fazemos com o rolo, quando acaba o papel higiénico? Deitamos fora? Fazemos colecção no armário mais próximo da casa-de-banho? Damos aos nossos filhos para que eles possam construir bonitos animais cilíndricos na escola, para o Dia do Pai? É mesmo isso que queremos, restos de artigos sanitários para o Dia do Pai?!

 

Eu não sei, porque ainda não sou pai. Mas sou utilizador assíduo e fã confesso de papel higiénico, e, para mim, esta situação não pode continuar.

 

Abaixo os rolos! Acima o papel higiénico!

 

Mas não demasiado acima, porque convém que uma pessoa consiga chegar lá sem precisar de se levantar…

 

 

Abreijo.

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Esclavagismo em cima do prato.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 22.11.15

Eu saio pouco de casa. Quando saio, começo a contar os minutos até voltar para casa, porque, no fundo, e vão-me perdoar a sinceridade, eu não tenho paciência para vos aturar. É por isso que, quando realmente saio de casa, gosto sempre de ter a certeza de que vai valer a pena, e de que é por uma boa causa.

 

E é por isso que não percebo o conceito de buffet. Excluamos, desde logo, o facto de se parecer com uma palavra portuguesa bastante desagradável – a bufa – e analisemos em que consiste essa forma de refeição: VÁ VOCÊ FAZER! Ora, eu teria todo o prazer em fazer, claro… Se estivesse em casa! Mas como investi tempo e esforço para me preparar para sair de casa – tipo tomar duche e vestir uma roupa minimamente decente –, não me apetecia ainda ter de fazer o meu próprio prato fora de casa.

 

Porque, vistas bem as coisas, essa é a principal razão pela qual eu saí de casa: para não ter de me preocupar em tratar de mim próprio! Quero ter o privilégio de atirar dinheiro a alguém e ser essa pessoa a fazer aquilo que eu quero por mim. É só estúpido atirar dinheiro a alguém e ainda ter de trabalhar... Para isso, ia às meninas.

 

Dito isto, consideremos o buffet: qual é a diferença entre eu atirar duas folhas de alface e um bocado de carne para um prato em casa e fazer exactamente o mesmo num restaurante, mas a pagar? Correcto, a diferença é o “pagar”. É que nem é a velha questão do ‘pagar para ser mal servido’, é mesmo pagar para nem sequer ser servido!

 

E as pessoas engolem isto, literalmente. Ficam todas contentes porque pagaram e, agora, podem ir buscar o que querem comer. Isso também se faz nos supermercados, e por muito menos dinheiro do que num restaurante!

 

Como tentativa de atenuar este problema – no qual as pessoas não reparam que estão a ser alvo de uma espécie de escravidão gastronómica encapuzada –, alguns estabelecimentos adicionam ainda o “privilégio”, para justificar a sua barbárie, de podermos repetir o prato as vezes que quisermos. Ou seja, em vez de apenas um, porque não levanta você próprio o rabo da cadeira e vem elaborar mais outro prato de comida?

 

Enfim, se vocês não sabem o que fazer ao dinheiro ao ponto de irem elaborar pratos fora de casa, falem comigo. Abri um buffet novo ali na esquina. Só serve pontapés e chapadas na boca a pessoas com muito dinheiro, mas sem qualquer senso comum.

 

 

Abreijo.

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Opressão ao corta-unhas.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 17.11.15
Comecemos com a tão necessária pergunta: porque é que eu não posso cortar as minhas unhas onde bem me apetecer?

Pronto, já estou alterado… Uma pessoa tenta não se exaltar, mas assim fica difícil! Isso da liberdade, que muitos apregoam, é muito giro, mas, pelos vistos, é só para alguns. Liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade religiosa e liberdade de voto, tudo bem. Agora, liberdade de cortar as minhas unhas num autocarro ou numa esplanada à beira-rio é que ‘tá quieto!

Quem foi o água de esgoto que decidiu que cortar as unhas em público era nojento? Por causa da suposta sujidade que se acumula? Quer dizer,se forem as unhas de um camionista, depois de um fim-de-semana em viagem constante e sem grande acesso a toalhetes húmidos, eu até percebo; é que o sebo entranha-se. Mas, as minhas, tão arranjadinhas?! Eu trato-lhes das cutículas todos os dias, lixo-as todas as semanas e pinto-as sempre que há ladies night: como é que são nojentas?!

Pode também haver quem argumente que é para evitar que os bocados de unha voem para a cara das outras pessoas, ao que eu respondo: “Ah, mas o paintball já é uma coisa muito linda, não é?!” O princípio é o mesmo: projécteis cheios de ‘nhanha’ lá dentro. E quem estiver muito incomodado, pode sempre passara andar na rua com um colete à prova de bala; principalmente quando eu estivera cortar as unhas dos pés, que são as mais imponentes.

Porque é que eu tenho de andar a cortar as unhas às escondidas na casa de banho, como um drogado? É assim tão mau, aquilo que eu estou afazer? Serei o único que o faz? Preferem que as corte à vossa frente ou que as deixe crescer e vos faça um golpe no braço quando estiver a dar-vos um aperto de mão?

Ah, bem me parecia.

 

Abreijo.

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A complexidade do foguete.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 08.08.15
“BOOOM”, rebenta o foguete! Osmais atentos já sabem que há festa, algures na ilha. Os desatentos ouvem masnão ligam, porque está toda a gente tão habituada àquele som estridente que jánem se nota. Passou a ser algo completamente natural, como o barulho da chuva,o chilrear dos pássaros ou as cantigas alternadas em noite de cantoria.

Não há outro som que assinale tãobem uma festa como um foguete. No futebol há o apito, e em algumas corridas háo tiro. Coisas rápidas, efémeras… Que servem apenas o propósito de dizer quecomeçou algo.
Já o foguete é, no geral, e porsi só, puro espectáculo! Desde a forma como é aceso, normalmente por via de umcigarro no canto da boca, até ao espectáculo visual que cria no céu, de clarõese de fumaça, e que perdura por alguns segundos. Mais bonito se torna aindaquando os rebentamentos são múltiplos, ocorrendo num ritmo que já todos nósconhecemos de cor.

Há quem não goste, e até há quemtenha medo – quem se assuste com o barulho –, mas não há quem não o reconheça enão perceba o significado daquele som. Os mais assustadiços podem semprerecatar-se numa das várias casas sempre abertas do arraial, a enfardar comida ebebida na esperança, certamente, de conseguir tapar os ouvidos através dopaladar, vá-se lá saber como.

O foguete é como a sineta daescola que todos odiávamos ou adorávamos, dependendo se tocava para o iníciodas aulas ou para o começo do recreio. Também ele indica o início ou o fim dasfestas, motivando a alegria ou o desalento dos festivaleiros.

O foguete também é perigoso, nãodigo que não… Se for mal direccionado, ou se a cana cair a pique em cima dealguém ou de alguma coisa, até é capaz de fazer alguns estragos. Mas as pessoasarriscam na mesma porque sem foguetes não há festa e, sem festa, não dá paraapanhar as canas e recordar os momentos em que os foguetes anunciavam o começodas festas.

Abreijo.

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As mãos dos pais.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 25.06.15
Já aqui me exprimi sobre asqualidades praticamente indestrutíveis das mãos das mães no que diz respeito à suaresistência ao calor, mas a verdade é que os tijolos a que os progenitores dosexo masculino teimam em chamar de mãos também não lhes ficam atrás.

Falo por experiência própria: omeu pai tem mão pesada! E nem é por uma questão de eu ter levado palmadasquando era miúdo, que dessas até levei muito pouco porque sempre fui um rapazbem-comportado e com cheiro a frutos do bosque, mas sim porque uma vez tenteidar-lhe um aperto de mão, como os senhores crescidos faziam, e ia ficando semossos.

Desconfio que, se o meu pai fosseum homem de negócios, nem precisava de dizer nada para fechar os contratos.Bastava-lhe apertar a mão do seu interlocutor quando se encontrassem e, dasduas, uma: ou o indivíduo assinava logo o contrato com a mão ou teria deassiná-lo mais tarde, a equilibrar a caneta com os cotovelos. E teria sorte senão levasse uma “palmadinha nas costas”, que na óptica do meu pai é como levarcom um muro de betão armado entre as omoplatas.

Mas desconfio que todos sejamassim. Parece, aliás, uma qualidade necessária para se ser pai. Ser-se pai comumas mãos suaves e cuidadas é o mesmo que ser-se pescador e não se chegar acasa com a roupa a cheirar a peixe. Não dá, faz parte da descrição do trabalho.

Mais, urge-se qualquer assistentesocial deste país que, caso veja um pai com as mãos sensíveis e perfumadas,retire logo a(s) criança(s) da sua custódia, porque aquele senhor não deve serboa rês nem deve estar a cumprir devidamente as suas funções de pai, comcerteza.

As barrigas dos pais merecembastante atenção, sem dúvida, até pelo seu tamanho e pelo investimento que neladepositam. Mas é nas suas mãos que reside o seu verdadeiro valor.

Caro leitor, se vai ser paibrevemente e tem as mãos tão suaves como o futuro rabo do seu futuro rebento,então aconselho-o a ir trabalhar dois mesitos nas obras ou no campo. O primeiromês será para se habituar, o segundo será para calejar as “habituações” do mês anterior.


Considere isto um conselho deamigo, apesar de eu, provavelmente, não o conhecer de lado nenhum.

Abreijo.

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Enumerar numerosos números.

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 14.06.15
“Trrim, trrim! Trrim, trrim!"

O vosso telemóvel está a tocar, não vão atender? Que toque tão antiquado, já agora… Quem será que vos está a ligar? É o vosso pai, a vossa mãe? O vosso chefe, o líder da vossa boy band, para gravarem um novo tema? Ou é um número que não conhecem? E, já agora… Como é que me identificariam esse número?

É aqui que começa a confusão, meus caros indivíduos. É na forma como dispomos os números de telemóvel, telefone, fax ou qualquer outro aparelho que exija a memorização de uma sequência numérica para o seu uso diário. Em específico, a forma como se parcelam esses números.

Eu vivi feliz até aos meus dez anos. Quando, aos onze, os meus pais decidiram que era altura de me comprar um telemóvel, por causa do sucesso do meu negócio de venda de lápis-de-cera comestíveis (que na verdade não o eram, mas eu dizia que sim porque sempre fui muito empreendedor), comecei a perceber que o Mundo não era cor-de-rosa. Quer dizer, eu sempre desconfiei, porque na minha infância as únicas coisas cor-de-rosa que havia eram as saias de um tio meu que tinha uns tiques esquisitos.

Mas foi a partir do momento em que tive de começar a dar o meu número de telemóvel às pessoas que percebi o que a vida custa. Como é que se deve dizer, afinal: através do clássico 900-000-000?; do 90-000-00-00?; do 90-00-0-000?; até do 9-000-00-000?; ou através do modelo de parcelamento de números de telefone mais utilizado em programas de televisão, o 900-00-00-00?

Sim, meus queridos coisos, aquelas pequenas pausas entre os conjuntos de números fazem toda a diferença! Não pensem que isto sou só eu a ser picuinhas, porque isso raramente é verdade. Se nos esticarmos em demasia nos números - com um 900000000 todo seguido, por exemplo -, até podemos, em casos extremos, falecer com falta de ar, tanto que hoje em dia já toda a gente reconhece a importância de uma respiração contínua e adequada. Porque é que continuamos, então, a exercer vários métodos distintos de parcelamento de números? Onde estão os regulamentos relativos a esta questão, Sr. Director deste tipo de cenas?

Além disso, a forma como parcelamos o nosso número de telemóvel pode fazer toda a diferença, por exemplo, num encontro de negócios, ou mesmo no próprio engate. O que acontece se a pessoa com quem queremos conectar tiver um sistema de parcelamento diferente do nosso e não gostar da forma como nos organizamos numericamente? Podemos acabar por deitar o negócio por terra, ou, pior ainda, o engate...

É por isso que, desde pequeno, quando me pedem o meu número de telemóvel - principalmente as gajas, aquelas mesmo boas e com bastante dinheiro para me comprar caixas inteiras de lápis-de-cera -, eu limito-me a mostrar-lhes o ecrã do telemóvel e evito dizer-lhes o número porque tenho medo de falecer com falta de ar. E também porque, vá lá, gosto de me fazer difícil.

Para terminar, perguntam-me vocês: "Gostosão, porque é que, neste texto, o teu número só tem um 9 e o resto é tudo 0?" Porque sim. Às vezes devemos deixar algumas questões por responder, de forma a que possamos adquirir uma melhor experiência deste espectáculo de luzes, cor e alegria a que chamamos vida.

E também porque não queria dar-vos o meu número verdadeiro, ouvi dizer que vocês são todos uns oferecidos.

Abreijo.

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Lápis cor-de-quem, afinal?

por (Exmo.) Diogo Ourique, em 28.05.15
Acho o racismo uma coisa horrenda, principalmente quando é promovido entre crianças. E reclamam vocês: "Então dizes isso dessa forma abrupta, sem nos avisar de antemão?" E eu respondo que é bem-feita, é o que vocês merecem depois daquilo que me fizeram naquele parque de estacionamento na esquina do coiso... Se não foram vocês, então peço desculpa.
Sim, a promoção de pontos de vista racistas durante o período de formação e educação das crianças é desagradável, principalmente quando elas querem estar concentradas nas aulas e não lhes é permitido. Veja-se o meu caso, por exemplo: quando eu era pequeno tinha um colega na minha turma que era africano, e sempre que eu lhe pedia o lápis cor-de-pele acabávamos por ter uma discussão, porque ele queria-me impingir o lápis castanho. Eu tentava explicar-lhe que não, não era bem aquele lápis que eu queria, mas ele, perante a minha impossibilidade e falta de meios para descrever aquela cor de outra forma, insistia.
E é muito isto, senhores formadores. Por que raio é que decidiram chamar uma qualquer cor de cor-de-pele? Onde é que tinham a cabeça, na Europa feudalista do século XVII?
Dou-vos, mais uma vez, o meu exemplo: no inverno, com a falta do Sol, a minha pele chega a ser quase translúcida, e eu sou, supostamente, caucasiano. Nos casos como o meu, também o lápis branco pode ser considerado cor-de-pele? E o lápis amarelo, se eu estiver mal do fígado? E o lápis roxo, se eu estiver embutido em 50 centímetros de neve? Ou será que, pelo contrário, quem se arriscar a tais denominações acaba por ter negativa no teste por não saber distinguir as cores?
Quem fala em racismo entre seres humanos, também pode falar de racismo entre plantas, entre frutas ou entre bebidas alcoólicas. E aqui vai: o cor-de-rosa, porque é que é cor-de-rosa? Todas as rosas são, vá lá, rosa? Não há rosas vermelhas, amarelas, brancas? Porque é que essas cores não são, também, chamadas de cor-de-rosa?
E o cor-de-vinho, porque é que se chama cor-de-vinho? Todos os vinhos têm aquela vermelhidão escura, a cair para o roxo? E o vinho branco, que nem é bem branco? E o vinho verde, que nem é bem verde?
A única denominação que acaba por fazer algum sentido é o cor-de-laranja, e mesmo essa fruta é verde ou amarelada quando está... pois, verde. Mas, estando madura, até faz sentido.
Pronto, era só isto. Não vos tomo mais tempo porque sei que têm de ir virar frangos, ir de mini-saia para a esquina ou seja lá o que vocês fazem para ganhar a vida.

Abreijo.

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